Foi uma aventura inesquecível. Rodamos 10150
km, durante 30 dias, pelos países do Mercosul conhecendo o Uruguai, a
Argentina, o Chile e o Paraguai. A viagem se iniciou no dia 29 de dezembro de
2006. Eu e meu amigo (de longa data) Thiago Abreu saímos de Belo Horizonte, em
duas motos Yamaha XT660R em direção de um lugar distante o qual ainda não
tínhamos ao certo a dimensão de sua beleza. O destino nos levava para a Cordilheira
dos Andes, que se convertia em uma realização de um sonho que há muitos anos
tínhamos iniciado.
Não foi a minha primeira viagem de longa
distância. Em 2004 percorri todo o Nordeste do Brasil, de XT600E, só que
sozinho. O frio na barriga na hora de sair deve ser o mesmo. A expectativa e a
ansiedade sempre estarão presentes. Posso apostar que o Thiago também estava
vivendo as mesmas aflições, mesmo porque, era sua primeira viagem desse tipo.
No primeiro dia, fomos até São Paulo. Foram 620 km. Pegamos um pouco de chuva
na estrada. Chegamos em São Paulo no final da tarde. Fomos para a casa da minha
Tia Marina, onde fizemos uma visita e passamos a noite.
No dia seguinte, fomos para Camburiú, no estado
de Santa Catarina. Foi um dia pesado, pois era dia 30 de dezembro, sábado, e
havia um movimento muito grande na rodovia. Descemos para o litoral paulista
pela rodovia dos imigrantes. Pegamos um congestionamento de mais de 60 km.
Ainda bem que estávamos de moto, pois fomos andando pelo corredor de carros, seguindo
o rastro dos motociclistas de São Paulo, a 80 km/h. Foi um dia de trânsito
intenso. Chegamos em Camboriú no final da tarde. Rodamos 700 km. Procuramos um
hostel da rede credenciada para nos hospedarmos mas todos os lugares estavam
ocupados. O Thiago lembrou que alguns amigos tinham ido passar o Reveilon
naquela cidade. Sendo assim, ligamos para eles e descobrimos que no apartamento
que alugaram, tinham dois lugares disponíveis. Encontramos com a turma, na
praia dos Amores, e então nos hospedamos. No dia seguinte, fomos à praia, que
por sua vez é muito agradável. Achamos uma tenda que alugava pranchas de surf.
Como bons mineiros, surfistas de ocasião, alugamos duas pranchas e caímos no
mar. Ficamos uma hora surfando as ondas de Camburiú. Mais tarde, preparávamos
para o ano novo. Fomos para a praia Brava, no município de Itajaí, onde uma
multidão se concentrava aguardando a meia noite. Ficamos em frente a boite
Arung, mas por volta das 11h30, desceu uma chuva inesperada, o que fez com que
muita gente saísse correndo tentando achar um lugar coberto. Mas a chuva foi
somente para dar uma molhada na galera. Passou rápido e acabou não tirando o
entusiasmo das pessoas que comemoraram com fogos e champagne a entrada de 2007.
Logo após a virada, o que comandou a festa foi a música eletrônica nas tendas
montadas na praia.
No dia primeiro, fomos seguir viagem. Nosso
destino era Porto Alegre. Chegamos em Porto Alegre ainda durante a tarde. O sol
estava castigando e o tempo estava muito quente. Chegamos então na casa de
minha tia Telma, aliás minha madrinha. Reencontrei minha família gaúcha que a
aproximadamente a 8 anos eu não visitava. De cara fomos para a piscina para
aliviar o calor. Mais ao final da tarde, fomos, juntamente com o Tio João Paulo
e minhas primas Lúcia Helena e Ana Luiza, ao Calçadão de Ipanema, na margem do
rio Guaíba. Incrivelmente, às 20h25 ainda tinha sol. Presenciamos na praia de
Ipanema um belíssimo pôr do sol. Então, fomos para casa novamente colocar os
assuntos em dia.
Durante a viagem, a partir de conversas de
posto de gasolina, uma dúvida começou a pairar em nossas cabeças. Segundo
informações obtidas no guia 4 rodas e na internet, a exigência para que um
veículo possa cruzar a fronteira é que ele esteja em nome do condutor. Porém
como minha moto estava alienada, começou a surgir a dúvida: o veículo alienado
pode ou não transpor a fronteira? Na terça-feira dia 2, fomos entrar em contato
com o Consulado Argentino e o mesmo assegurou que era necessário, em caso de
alienação, uma autorização do banco credor, reconhecida em cartório e
homologada em todos os consulados por onde fossemos passar. Então foi o início
de uma novela. Ficamos 3 dias em Porto Alegre cuidando de burocracias para
conseguir a tal autorização. Conseguimos ter o documento pronto apenas na
quinta-feira. O ponto negativo foi que NENHUMA fronteira pediu o documento, o
que acabou fortalecendo a tese de que o mesmo era desnecessário. O que importa
é se o veículo está em seu nome. O ponto positivo foi que tivemos mais tempo
para conhecer Porto Alegre. Passamos no estádio Olímpico do Grêmio e no estádio
Beira Rio do Internacional. Conhecemos também um lugar um tanto quanto exótico:
fomos ao Cemitério São Miguel Arcanjo. Na verdade, o que nos atraiu foi a forma
com a qual o mesmo é organizado. É um prédio onde os túmulos são gavetas bem
organizadas em cada andar. É um show em termos de organização do espaço, beleza
e utilidade, pois nem a chuva passa ser problema para uma visitação. Como nunca
tínhamos visto isso antes, registramos várias fotos.
Os dias de estadia em Porto Alegre também
tiveram a sua relevância didática. Compramos o livro “Como dizer tudo em
espanhol” e começamos a estudar a língua e suas expressões. Comecei aprender
espanhol duas semanas antes da viagem, a partir de um livro didático de
gramática. O problema é que o aprendizado acaba se consolidando apenas quando
você já está imerso em outra língua, e que acaba não tendo outra opção: “hablar
o hablar”.
Então, na sexta-feira dia 5 de janeiro,
seguimos sentido Punta Del Leste no Uruguai. Cruzamos a fronteira no Chuí,
extremo sul do Brasil. Quando chegamos na Aduana Uruguaia, o coração batia
forte. Quando os fiscais começaram a falar, era impossível entender uma
palavra. A sorte foram os gestos que nos direcionaram para o guichê do serviço
de imigração. Apresentamos o passaporte, o documento da moto e preenchemos um
formulário. Como disse, não pediram a tal autorização e nem o seguro
Carta-Verde. O seguro Carta-Verde é um seguro contra terceiros e é exigido de
todos os condutores de veículos estrangeiros nos países do Mercosul Fizemos pela Magna Corretora de Seguros, por
meio de sua representante na cidade do Chuí, a Cesul Transportes.
Já em solo uruguaio, rindo a toa, fomos até
Punta Del Leste. A estrada é muito bem conservada, plana e reta. Mesmo com
essas características, notamos que os uruguaios todos respeitavam o limite de
velocidade da via, muitas vezes bem abaixo do limite superior de 110 Km/h.
Tínhamos certeza que realmente estávamos entrando para um país diferente, com uma
cultura diferente. As paisagens são belas: campos imensos, árvores e
plantações. Um vento frio começava a bater. Na estrada, encontramos outro
motociclista viajando. Nosso agora amigo, o carioca Joham, estava sozinho em
uma Yamaha Virago 535 e acabou indo conosco para o hostel onde nos hospedamos.
No Hostel Manantiales fizemos várias amizades.
Franceses, Espanhóis, Uruguaios, Argentinos, Mexicanos, Canadenses, Americanos,
Brasileiros e Ingleses. No nosso primeiro café da manhã em solo estrangeiro, no
famoso “desayuno”, conhecemos uma uruguaia que se chama Inês. A Inês nos ajudou
bastante nos primeiros momentos precisando falar espanhol. Como a irmã dela
vive no Brasil, ela sabia falar português e então nos ajudou nas primeiras
frases em espanhol. É desesperador você chegar na cozinha, botar açúcar no seu
café e humildemente precisar de um colher. Você chega para a copeira e diz: “_
Preciso de una colher!!!” A mulher te olha não entendendo nada. E você começa a
fazer gestos igual a brincadeira de mímica. A sorte que a Inês estava do nosso
lado e começou a passar as coordenadas.
Depois da experiência do café da manhã, tinha
certeza que precisa estudar mais. Peguei os livros e fiquei lendo. Acho que o
fato de eu estar estudando, despertou uma certa atenção na galera e então,
alguns minutos depois, os espanhóis que estavam lá e a nossa amiga Inês
começaram a praticamente nos dar aula. Tiravam as dúvidas, explicavam a
pronúncia das palavras e o mais importante: conversavam conosco. O bom é que
depois de alguns dias, você vai ficando mais a vontade com a língua e então
tendo mais facilidade de se expressar.
Depois de ler todo o livro didático e dar uma
folheada no livro de expressões, resolvemos sair para conhecer a praia de
Manantiales, apesar que nesse dia, o Thiago não estava muito bem pois havia
comido uma carne na noite anterior e teve uma indigestão. Ao chegar na praia, a
primeira conclusão foi que a água era gelada refletindo exatamente o que é
estar fora da zona tropical do globo. Outra observação era que todas as casas
eram muito bacanas. Bom sinal que ali era lugar para grã-fino. Mas como bons
viajantes, o nosso negócio era aproveitar. Após algum tempo, retornamos ao
hostel, pegamos uma moto e saímos para passear pela cidade e fotografar.
Punta del Leste é uma cidade muito bonita, com
uma arquitetura moderna e arrojada. Muitos argentinos, no período de férias,
vão para Punta del Leste curtir a praia. Muitos carros bonitos circulando.
Realmente é uma cidade encantadora. No entanto, os carros uruguaios de um modo
geral são carros velhos e mal conservados. Um verdadeiro museu de carroças.
Conhecemos o hotel Conrad, fomos ao Shopping e fomos almoçar no McDonalds.
Naquele dia começamos a respeitar o importante papel do McDonalds. Quando você
está longe de casa, e não quer arriscar nas refeições, você sempre está seguro
que o BigMac é o mesmo em qualquer lugar.
À noite, no hostel, teve um rodízio de pizza
organizado pela administração. É um bom momento para integrar a moçada. Acabou
que ficamos conhecendo outras pessoas. Conhecemos uma uruguaia, chamada
Gabriela, que é fascinada com o Brasil. Tem a bandeira, camisa, etc. Ela também
falava português, visto que já morou no Rio de Janeiro e hoje é professora de
português no Uruguai. Conhecemos uma turma de argentinos. O Thiago inclusive
ficou com uma argentina chamada Martina. Ficamos até altas horas conversando
com a galera. No entanto, às duas da manhã, o pessoal foi sair para uma boite.
Fiquei encabulado com o horário. Mas existe uma explicação para o fato: lá fica
escuro por volta das nove e quinze.
No dia seguinte fomos para Montevideo. Foram
aproximadamente 170 km de viagem. Chegamos no início da tarde, fomos para o
hostel Che Lagarto e de lá saimos para conhecer a cidade e também para almoçar.
Era domingo e a cidade estava muito calma. A capital uruguaia é uma cidade
bonita, com estilo europeu muito forte e repleta de monumentos. Almoçamos em um
bom restaurante e saimos para conhecer a cidade e fotografar. Não vimos sentido
de ficar mais outro dia em Montevideo. Logo decidimos no dia seguinte seguir
para Buenos Aires na Argentina.
Naquela semana, a Argentina e o Uruguai estavam
conflitos: ambientalistas argentinos fecharam todas as pontes de acesso da
Uruguai para a Argentina. Eram manifestações contra as indústrias de papel do
Uruguai. O fato é que não havia passagem rodoviária do Uruguai para a
Argentina. A única opção que tinhamos era ir de barco, chamado Buquebus. Então
no dia seguinte, fomos para o porto e embarcamos rumo a Buenos Aires. Foram
quase três horas de viagem no mar. Novamente, na aduana Argentina, não fomos
cobrados do tal documento autorizando o veículo alienado.
Durante a viagem, conhecemos outro aventureiro
motociclista que estava sozinho indo para a Patagônia. O Sr. Francisco é
maranhense e mora em Santa Catarina. Ele estava em uma Honda Falcon. Aproveitei
o FreeShop do Buquebus para comprar algumas coisinhas. Apesar do preço da
passagem (você tem que pagar uma para você e outra para a moto), foi
interessante ter ido de barco pois descansamos enquanto estavamos deslocando.
Ao chegar em Buenos Aires, fomos para o hostel
Chelagarto Buenos Aires. O hostel fica próximo da avenida 9 de Julio, próximo
ao Obelisco, que é um dos principais monumentos da capital argentina. No
hostel, conhecemos duas francesas e quatro israelenses.
No dia seguinte saimos para conhecer Buenos
Aires. Fomos à rua Flórida, onde fica o centro comercial. Depois fomos almoçar
e sentamos em restaurante para comer lasanha. Como diz o Thiago, “a lasanha não
é a mesma coisa”. De fato, tinha espinafre e outras coisas que não cativaram o
nosso paladar. Na parte da tarde, fomos em lojas de moto comprar óleos
lubrificantes para colocar nas motos. Fizemos a troca de óleo e abastecemos as
motos para ficarem prontas para o dia seguinte. Nossa meta era dirigir 1000 km
até a cidade de Mendonça.
O dia amanheceu chuvoso e arrancamos de Buenos
Aires embaixo de chuva. Não tivemos dificuldade para sair da cidade. Pegamos
então a Ruta 7 em direção ao Oeste. Durante a viagem, tivemos um imprevisto.
Diante das fortes chuvas que estavam atormentando a Argentina, fizemos um
desvio de 200 km para escapar de um trecho que estava inundado. Trocamos um
trecho de 258 km por um de 470 km. Isso inviabilizou nossa empreitada de chegar
em Mendonça. Então, como já era noite, paramos na cidade de Vila Mercedes na
província de San Luis para nos hospedarmos e dormir.
Ficamos em um hotel no centro da cidade. De
manhã, quando levantamos, estava chovendo. Preparamos as bagagens, abastecemos
e voltamos para a Ruta 7, seguindo viagem em direção à Cordilheira dos Andes.
No meio do caminho, novamente pudemos perceber os transtornos da chuva na
Argentina. Apesar de termos pego apenas alguns pingos durante o trajeto, em um
determinado ponto da estrada, havia um enxurrada gigante que inundava toda a
pista. Apenas caminhões estavam conseguindo passar sendo que os veículos podiam
passar apenas em uma das pistas (mais raso). Policiais organizavam o trânsito.
Após registrar algumas fotos, passamos facilmente pelo “lago” e seguimos em frente.
Após passar por Mendonça, continuamos seguindo em
direção a Uspallata. Desse ponto em diante podíamos ver as montanhas da
primeira etapa da Cordilheira. A mudança na estrada é imediata. Curvas a todo
momento certificavam nossa presença em uma região montanhosa. Cada vez mais as
montanhas nos impressionavam. A paisagem realmente se demonstrava única. Então
começamos a parar para bater fotos. No primeiro lugar, montanhas gigantescas
cercavam um lago de cor azul. Uma maravilha! Pena que quando vimos a foto,
tínhamos certeza que ela não conseguia demonstrar na totalidade o que tínhamos
visto. Mais adiante, um quiosque de esportes radicais organizava atividades de
rapel e rafting. Resolvemos entrar para ver. Para chegar ao local, era
necessário passar por uma pequena estrada de terra. Como se não bastasse os
anos de experiência com motos, inclusive no off-road, o Thiago fez questão de
tomar um tombo ao deixar sua moto deslizar a roda dianteira sobre um trilho de
trem (ô rôia!!!). Até hoje, ele jura que não tinha prestado atenção. Porém, com
moto não se permite não ter prestado atenção. Resultado: estava o corpo
estendido no chão pedindo socorro para ajuda-lo a sair de baixo da moto.
Sinceramente, quase bati uma foto, mas como fiquei grilado de ele estar se machucando,
corri e ajudei a levantar a moto. Depois sim, bati a foto. Pode-se dizer que o
Thiago comprou um terreno em plena Cordilheira dos Andes, ainda na Argentina, e
com direito à escritura (ralou o joelho e ainda torceu o tornozelo).
Depois de ter passado o susto e detectado que a
moto não teve problemas, seguimos viagem até Uspallata. Chegamos era ainda
tarde e o sol estava alto. A 1 km do hostel onde iríamos hospedar, tive o
primeiro e único problema mecânico da viagem: ao acionar o freio traseiro, escutei
um barulho forte acompanhado de um cheiro de queimado. Ao estacionar no hostel,
fui verificar e detectei que uma das pastilhas de freio traseiro havia acabado.
Então, a parte metálica da pastilha atingiu o disco, fundindo “ferro com
ferro”, danificando o mesmo. Fiquei grilado de não te olhado a pastilha de
freio antes de acabar. No entanto, ao detectar que somente de um lado havia
acabado, levantei uma hipótese de falha de material pois normalmente as
pastilhas dos dois lados se desgastam por igual. Pensei na possibilidade de ter
passado com a moto dentro d´água e ter provocado um problema no material, pois
como estávamos viajando apenas em retas até então, tinha usado o freio muito
pouco. Outro ponto que fiquei chateado comigo mesmo foi de não ter levado
pastilhas reserva. Mas de qualquer forma, estávamos na esperança de consegui-la
no Chile, em Santiago, onde a YAMAHA também comercializa a moto.
Depois de tomar um banho, saímos para comprar
comida. Chegamos em um armazém em uma pequena vila e que estava fechado. Pouco
tempo depois, a dona do negócio chegou, abriu a vendinha e nos vendeu alguns
biscoitos, chips e refrigerante. Voltamos para o hostel, fizemos um lanche e
fui me preparando para lavar roupa. Gentilmente, o dono do hostel, que chamava
Daniel, pegou nossas roupas e colocou na máquina. Que maravilha! Acho que já
não tinha cueca para o dia seguinte. Visto que essa atividade ficou para a
máquina, fomos jogar ping-pong (tênis de mesa).
O Thiago, como desculpa de perdedor, dizia que
o problema era seu pé que estava doendo. Apanhou de balaiada! Acho que até
mesmo para descansar de um dia muito intenso, o mesmo resolveu dormir cedo.
Conheci outros amigos no hostel. Argentinos e Canadenses estavam por lá
hospedados. Aproveitei que o Daniel tinha um violão e ficamos até tarde fazendo
um lual. Uma das argentinas também tinha levado um violão e acabou sendo uma
noite muito agradável, ao som de violão e abaixo de um céu cheio de estrelas.
Segundo o Daniel, estávamos à 2.400 m de altitude. Então até podemos dizer que
estávamos mais perto do céu.
No dia seguinte, com a roupa toda lavada,
arrumamos a bagagem para seguir até Santiago. Era um dia muito especial pois
iríamos cruzar a fronteira naquele dia, além de também chegar no ponto mais
alto da travessia. Como estava sem freio traseiro (se precisasse usar, ia
funcionar, mas estragaria mais e mais o disco de freio) resolvemos ir mais
devagar. Por termos sidos muito bem recebidos pelo Daniel, demos uma camisa da
Expedição Mercosul 2007 para ele. Com a bagagem toda pronta, saímos, passamos
no posto e seguimos rumo ao Chile.
Acho que foi o dia mais especial da viagem.
Primeiro porque estávamos realmente cruzando a Cordilheira. Segundo porque
estávamos chegando ao Chile, ou seja, longe de casa, e já próximo do oceano
pacífico. Cada montanha que víamos era um espetáculo à parte. Algumas mais
altas, mesmo no verão, ainda tinham neve. E a neve, por estar constantemente
derretendo, formava filetes d´água que desciam pelas montanhas para formar mais
abaixo rios maravilhosos. Um espetáculo! Da estrada podíamos avistar o Pico do
Aconcágua, que fica a 6.959 m de altitude. Claro que paramos para fotografar.
Nesse ponto, na base da montanha devíamos estar a aproximadamente 3.000 m de
altitude. Seguimos um pouco mais e encontramos um centro de apoio turístico que
indicava o acesso para o “Cristo Redentor do Aconcágua”. O Cristo fica no alto
da montanha, à 4.500 m, bem na divisa entre a Argentina e o Chile. Procuramos
nos informar se era possível ir até lá sem problemas. Uma moça que trabalhava
no local nos informou que carros vão até lá e que a estrada de terra não estava
com nenhum problema. Como o negócio era aventura, encaramos 8 km de estrada de
terra até o Cristo.
As motos ignoraram o problema da altitude.
Funcionaram perfeitamente durante todo o percurso (mas eu continuava apenas com
o freio dianteiro). No meio do caminho já encontramos algumas placas de gelo
que estavam ainda se derretendo. Paramos, pisamos no gelo, tiramos fotos e com
certeza, rindo à toa. Chegamos no topo e vários turistas estavam lá registrando
fotos. Encontramos um brasileiro, gaúcho, que estava viajando de carro e que
por coincidência ultrapassamos o mesmo várias vezes na estrada no dia anterior.
Encontramos uma turma de argentinos que estavam também viajando de moto (Honda
Twister). Eles disseram que as motos quase não conseguiram subir. Essa foi a
grande diferença pela opção pela XT660R.
A XT660R possui injeção eletrônica de
combustível (primeira fabricada no Brasil). Então, ela é capaz de automaticamente
dosar a quantidade de combustível enviada ao motor de acordo com as condições
de pressão atmosférica. Nas motos com carburador, isso não acontece. A
regulagem é fixa. Logo, quando as condições vão mudando, a máquina vai perdendo
a regulagem. No caso da altitude, como o ar é rarefeito, existe pouco oxigênio
para mesma quantidade de gasolina ao nível do mar (por exemplo). Então a
superalimentação de combustível faz com que o motor vá se afogando, até não ter
mais força e então apagar. Para solucionar isso, para as motos carburadas,
deve-se levar um giclê com orifício menor para diminuir a entrada de
combustível para o motor. Porém, para fazer a troca, o carburador tem que ser
desmontado e exige que a pessoa tenha um mínimo conhecimento de mecânica.
Mas a altitude não influencia apenas o
funcionamento do motor. Ela também altera o funcionamento do corpo humano.
Durante a subida, tive alguns momentos de sentir um calor inexplicável, como se
minha pressão estivesse subindo de repente. Porém, após alguns instantes,
estabilizava e voltava ao normal. Quando chegamos ao topo, realmente não senti
mais problemas. Apenas detectei que se desse 10 passos correndo, ficava muito
ofegante e que o pensamento parecia estar lento. De repente as palavras se
perdiam, o que ia se dizer esquecia e etc. Como faltava oxigênio no cérebro
(nos níveis de costume) acho que eu parecia ter me tornado burro! Conta de
cabeça eu nem tentei para não ficar frustrado. O Thiago começou a sentir enjôo
e queria ir embora rápido, pois estava passando mal.
Batemos várias fotos, fizemos o vídeo para a
posteridade, e descemos, por outra estrada, em direção ao lado chileno. Por ter
passado pelo Cristo, evitamos passar pelo Túnel Internacional Cristo Redentor,
de 3 km de extensão, que divide a estrada em lado argentino e lado chileno.
Evitamos também pagar o pedágio no túnel. Após alguns quilômetros chegamos na
aduana chilena.
A fila era bem grande. Marcamos nosso lugar e
fomos adiantar a documentação, cambiar o dinheiro e fazer um lanche.
Encontramos vários brasileiros de moto também na fila. O pessoal estava indo
para um encontro em Vina Del Mar, ao lado de Valparaíso, 100 km de Santiago.
Conhecemos um brasileiro que é do Acre e que nos incentivou a ir até lá.
Afirmou que as estradas no Acre estavam muito bem conservadas. Realmente
ficamos encorajados.
Voltamos para a fila e ao chegar na nossa vez,
passamos pelas 5 etapas para se entrar no Chile. Primeiro você passa no guichê
argentino e registra a sua saída do país. Depois tem que se pagar um pedágio. Em
seguida passa em um guichê para apresentar o documento da moto e o passaporte.
Então você vai para um outro estágio, que sua bagagem é revistada, inclusive
com cães farejadores. Então, você entrega uma declaração assinada que não está
portando nenhum produto ou substância proibida no Chile. Para se ter uma idéia,
não é permitido entrar com nenhum alimento e nem com equipamentos de filmagem
profissionais ou novos. Tudo tem que ser declarado. Por fim, na última etapa, o
sujeito confere os documentos e registra a sua entrada. Depois de tudo,
realmente você está no Chile.
Quando ainda estava na etapa dos cães
farejadores, o Thiago viu o treinador do cachorro colocar algo em minha
bagagem. Eu não percebi mas me deu um nó na cabeça quando vi que o cachorro não
parava de pular na minha moto. Comecei a pensar no que poderia ser. Não sei o
porque disso mas a verdade é que o cachorro achou um pedaço de salsicha embaixo
da minha sacola presa ao banco e o treinador afirmou que era para manter o
cachorro sempre ativo. Não achei muita graça não, mas às vezes podem fazer isso
para verificar a reação da pessoa. O certo é que nada aconteceu e seguimos
viagem.
Poucos metros depois começamos a descer em
zig-zag. Quando percebemos, estávamos nos famosos Caracoles. O lado chileno é
só deserto. Quanto mais descíamos, mais quente ficava. Descemos até Los Andes e
depois pegamos uma autopista até Santiago.
Devido a alguns desvios na cidade por causa de
obras, custamos mas achamos o hostel Che Lagarto de Santiago. Nos hospedamos,
tomamos um banho e nos preparamos para sair para comer. No hostel conhecemos
mais pessoas: o Andréas, alemão que também estava no mesmo quarto que
estávamos; a Vanessa, carioca que estava em um congresso de Direito
Internacional, a Alessandra, paulista de Ribeirão Preto, o Felipe, argentino de
Tucuman, o Hércules, capixaba que mora em Gov. Valadares, e mais uma galera de
gente. Nesse dia, eu, o Thiago e o Andréas fomos lanchar no Burger King.
Conversávamos em espanhol e inglês. Enquanto eu e o Andréas fomos dormir, o
Thiago resolveu sair a noite e diz ter ficado com uma chilena.
No dia seguinte fomos procurar por alguma
autorizada Yamaha para comprar a pastilha de freio. Pela internet localizamos
as possíveis lojas. Pegamos o mapa e fomos caminhando até o local. Após comprar
as pastilhas, voltamos para o hostel. Pegamos as motos e fomos a uma mecânica
para fazer a instalação da pastilha. Foi tranqüilo. Aproveitamos e fomos
almoçar uma pizza logo em seguida.
Na Pizzaria, pudemos assistir ao Chaves em
espanhol. No entanto, lá se chama Chavo. O episódio que estava passando eu já
tinha visto. No entanto, não estava dando para compreender a fala dos
personagens. Confesso que achei graça do mesmo jeito ao observar os chilenos
rindo das cenas. Fiquei impressionado também com semelhança do timbre de voz do
“Chaves Brasileiro” com o “Chavo Espanhol”. Arrumaram uma dublagem muito boa
para a voz do ator.
Após o almoço fomos procurar um lava-jato para
dar uma limpeza nas motos. Achamos uma lavadora automática com ficha. Compramos
uma ficha e que deu para lavar as duas motos. Abastecemos as motos e voltamos
para o hostel. Nesse dia, foi feito um churrasco no hostel mas não
participamos. O Thiago não come carne vermelha. Sendo assim, à noite fomos ao
Mc Donalds com a turma do hostel. Estava muito descontraído e foi excelente
para conhecer mais a turma. Para o trecho seguinte, estávamos em dúvida se
íamos a Vina Del Mar ou se andávamos mais até La Serena. Decidimos ir para La
Serena pois seria um trajeto maior. Naquele dia ainda pensávamos em ir ao Peru
apesar dos riscos de não conseguir entrar devido não ter a autorização do
Consulado do Peru no tal documento.
Andamos aproximadamente 450 km até La Serena.
Como saímos tarde de Santiago, chegamos na cidade no final do dia. Encontramos
uma pousada e nos hospedamos. Após tomar um banho fomos jantar. Porém nesse dia
não tive uma digestão e precisei de tomar um chá de boldo para ver se
melhorava. Acabou dando certo.
Em La Serena, decidimos não avançar até o Peru
visto que a distância seria muito grande e com o tempo que tínhamos iria ficar
um pouco corrido. Além disso, estavam tendo muitas chuvas no Peru. Então
resolvemos deixar de lado e decidimos ir em direção de San Pedro de Atacama e
regressar ao Brasil pela Argentina. A viagem para o Peru ficou para uma outra
ocasião.
No dia seguinte viajamos até o município de
Caldeira, pouco depois de Copiapó. Foram aproximadamente 450 km. Desde
Santiago, em toda trajetória tínhamos retas infindáveis e a paisagem era
desértica Após La Serena, já no Deserto de Atacama, realmente não havia muita
coisa. Postos de gasolina de 200 a 200 km. Chegamos em Caldera no início da
noite. Nos hospedamos em um hotel na beira-mar. A cidade, no meio do deserto,
tinha poucas opções de lazer. Saímos e jantamos em um pequeno restaurante ao
lado do hotel, visitamos um museu e depois fomos para a praça da cidade onde
estavam ocorrendo atividades culturais. Inesperadamente começou a chover no
deserto. Algumas gotas de água desceram durante alguns minutos. Ao invés do
povo sair correndo por abrigo, começaram a comemorar. Inacreditável! A alegria
durou pouco mas a festa continuou. Andando pelas barraquinhas de artesanato,
descobrimos que o que estava “bombando” entre as crianças era o famoso totó.
Filas e filas em diversas mesas de totó agitavam o local. Inclusive mesas com
néon e etc. Muito interessante.
No dia seguinte fomos até a Bahia Inglesa, que
é uma praia a 7 km de Caldera. A praia em si é bonita. Porém é impossível nadar
devido às medusas gigantes e à água gelada. A areia da praia não é fina como as
nossas. Parecem mais flocos de Neston rígidos. No local, existem placas
alertando para o perigo de Tsunami na região.E o mais interessante é que a
praia acaba e o deserto começa, sendo que não existe nenhuma vegetação natural
no local. Sinceramente, sai de lá mais apaixonado com as praias brasileiras do
que quando fui. Resolvemos seguir a viagem. Logo na hora do almoço, saímos em
direção a Antofagasta.
Durante o trajeto, passamos na famosa “Mão do
Deserto” e registramos fotos. Ao chegar em Antofagasta, primeiro fomos comer no
Mc Donalds. Um dos abastecimentos do percurso não aceitava cartão e acabamos
ficando sem Pesos Chilenos. Tínhamos apenas dólares. Encontrar algum lugar para
comer e poder pagar com cartão de crédito era essencial. O Mc Donalds nos
atendeu mais uma vez muito bem. Alimentados, fomos procurar por hospedagem.
Fomos em vários lugares e acabamos nos hospedando no Hotel Brasil.
No dia seguinte, saímos para trocar dólares e
comer. Fomos para a praia e pela primeira vez, nadamos no oceano pacífico. A
água em Antofagasta é mais quente do que para o sul e além disso, fizeram uma
bahia artificial que protege a praia das medusas. A praia estava cheia e
aproveitamos um trampolim para saltar no mar e nos divertir. Mais tarde fomos
ao shopping da cidade e regressamos a noite apenas para dormir.
No dia seguinte, saímos em direção à São Pedro
de Atacama, passando pela cidade de Calama. Na estrada tivemos um problema com
os Carabineiros do Chile. Imagine a situação. A estrada era plana e a reta era
muito grande. De repente uma placa solicitava a redução de velocidade para 50
km/h. Uma leve curva à direita surgiu e ultrapassei um veículo que estava à
minha frente, na velocidade de uma tartaruga. Quando alinhei novamente, havia uma
placa indicando “Pare. Cruzamento com ferrovia”. Reduzi a velocidade, observei
que não vinha nem um trem e passei, acenando para dois carabineiros que estavam
em sua patrulha logo na placa.
Assim que passei, um deles apitou e ordenou que
eu parasse. Olhei no retrovisor e verifiquei que o Thiago também foi parado.
Mesmo uns 30 metros a frente, desliguei a moto, desci e tirei meu capacete,
caminhando em direção ao patrulheiro. Quando cheguei perto dele, ele me
solicitou os documentos e pediu que eu o acompanhasse. Pensei comigo: tomei
multa por ter passado na contínua, em curva e acima da velocidade do local.
Quando chegamos na placa, o policial me perguntou se eu “hablava español”.
Respondi que sabia um pouco. Então ele pediu que eu lesse o que estava escrito
na placa. Quando olhei, estava escrito de todo tamanho PARE. Ele me fez repetir
o que estava escrito. Olhei para a estrada e vi todos os carros parando:
carretas carregadas, caminhões e carros. Todos paravam. Fui pedir perdão, e
quase tomei outra: “– No Chile no hay perdon! Perdon apenas na corte!!!”. Na
hora pensei que a viagem ia agarrar. Tomei outra: “– No Chile, PARE é PARE! No
és como en
Bresil!”. O camarada ainda me fez
repetir mais duas vezes o PARE e depois nos liberou. Pergunta se depois deixamos
de parar em alguma placa. Paramos em todas. Continuamos a viagem após ter
tomado a lição.
Alguns quilômetros adiante, após ter cruzado a
linha do Trópico de Capricórnio, já na zona tropical, paramos em um posto de
gasolina. Encontramos dois gaúchos que retornavam de Matchu Pitchu. Os dois
estavão em uma Yamaha XT600E e uma Honda Falcon. Eles estavam descendo para ir
até a Mão do Deserto visto que se quisessem já podiam ter pegado pela Argentina
descendo em direção ao Rio Grande do Sul. Aproveitei para alertá-los sobre a
placa de Pare.
Chegamos em San Pedro de Atacama, que fica
próximo da fronteira com a Bolívia e já mais perto da fronteira com a
Argentina. Nas montanhas ao redor da cidade a temperatura é mais baixa. Porém,
na cidade, durante o dia, é um pouco quente. Porém, à noite, a temperatura cai.
De dentro da cidade é possível ver montanhas com neve ao fundo. Um vulcão
inativo que possui neve no seu topo, se destaca na paisagem. Nos hospedamos em
um hostel e conhecemos diversas pessoas. Chilenos, suecos, alemães,
brasileiros. Fomos ao mercado de artesanato, conhecemos a cidade e mais tarde
saímos para jantar em um restaurante ao lado do hostel. Fizemos amizade com o
cozinheiro que acabou por nos receber super bem. No dia seguinte fomos lá
novamente.
Levantamos e fomos conhecer o Parque Nacional
Vale dela Luna. Fomos de moto até a entrada do parque. Depois deixamos a moto
estacionada e fomos caminhar entre os cânions, grutas e dunas do local.
Conhecemos durante a aventura um chileno, chamado Andy, que acabou nos
salvando. Fomos totalmente despreparados para o passeio e se não fosse a
lanterna que o Andy tinha, não daria para ter entrado nas grutas. Mas no final
deu tudo certo.
Retornamos para a cidade e fomos procurar um
lugar para almoçar. No restaurante que estávamos, fizemos amizade com dois
brasileiros, pai e filho, que também estavam viajando. Conversamos bastante e
depois do almoço fomos até o hostel para mostrá-los as motos. Batemos fotos e
trocamos e-mails. Mais tarde, fomos ao Vale dela Muerte, de moto, para conhecer
o local e ver o pessoal descendo as dunas de sandboard. Par chegar no local,
era necessário passar por uma estrada de terra que hora se tornava areia. O
Thiago, meio ressabiado de cair novamente, começou a neurar com a minha pilotagem.
Afirmou que eu estava andando rápido e disse que era para eu fazer aquilo
apenas quando estivesse sozinho. Acho que ninguém se sente seguro por completo
na garupa. Pediu para sair e ir a pé. Mais leve ficou mais fácil e emocionante.
Não se compara ao Rali Dakar, mas acelerar a moto no areião tem sua dose de
adrenalina. Na areia, a tendência da moto é atolar a dianteira. O grande
segredo é acelerar a moto, aliviar a dianteira e deixar a moto “dançar”,
ficando mais em pé e deixando o corpo mais para trás. Outra técnica que é usada
é esvaziar um pouco o pneu para que ele não afunde tanto na areia.
Quando chegamos na principal duna, subimos até
o topo e ficamos observando o pessoal descendo a duna de sandboard. No local, o
Thiago arrumou uma prancha emprestada de um nativo que estava lá praticando o
esporte. Em sua única chance de descer, o garotinho fez bonito. Desceu até o
final sem cair. Duas inglesas que estavam no local aprendendo, ficaram
entusiasmadas e não acreditavam que era a primeira vez dele.
Voltamos para o hostel e após termos jantado,
as chilenas que estavam por lá fizeram uma festa no quintal do hostel. Puseram
em uma caixinha de som umas músicas “para bailar”, e começaram a dançar salsa
sem parar. Rapidamente o Thiago entrou na onda e começou a dançar também.
Resultado: ele ficou com uma das chilenas depois de horas dançando.
No dia seguinte, fomos embora sentido
Argentina. Na Aduana Chilena, fizemos o procedimento de saída. Encontramos
outro motociclista, paulista, que estava viajando com sua esposa de Yamaha
XT600E. A medida que subíamos a montanha e afastávamos de San Pedro de Atacama,
a temperatura caía e os primeiros sinais de vegetação apareciam. Estávamos
preparados para o frio. No alto da montanha, na fronteira, pegamos
aproximadamente uns 15ºC com um vento muito forte. O paso de Jama está a 4.900
m de altitude. No alto das montanhas, existem lagos maravilhosos e salinas
gigantes. É uma paisagem muito bonita. Quando chegamos na Argentina, a paisagem
era outra: vegetação em todas as partes, pássaros, insetos e bichos. A
Cordilheira voltava a ter vida. Nesse dia, devido à altitude, senti um pouco de
dor de cabeça.
Na aduana Argentina, no paso de Jama, fizemos
os procedimentos de entrada no país. Aproveitamos para fazer um lanche em uma
vendinha que tinha ao lado. Conforme falei anteriormente, a altitude causa
situações inexplicáveis. Bebendo um suco e comendo biscoito, senti minha mão
muito fria, mas não congelada. Veio um vento forte e que jogou o pacote de
biscoitos longe. Na hora, tive a impressão de que meu copo também havia voado
junto. Comecei a procura-lo no chão e não achava. O Thiago disparou a rir e
gritar que não acreditava. Depois dele ter feito isso umas três vezes que fui
desconfiar que ele estava rindo era de mim e que o copo que eu estava
procurando estava na minha mão. Pensa nisso! Na altitude você fica lerdo e
burro!!! Morri de rir de mim mesmo com o episódio.
Continuamos e fomos descendo. Paramos próximos
de uma salina gigantesca para bater fotos. Observando o horizonte, podia se
perceber que uma nuvem estava transbordando a montanha, assim como um vapor
salta a borda de uma panela. Achei interessante porque a nuvem que estávamos
vendo ainda estava abaixo do nível que nos encontrávamos. Podíamos observar as
nuvens por cima delas. Quando atingimos a tal montanha, começamos a descer em
uma estrada muito sinuosa pela serra. Naquele ponto, tudo estava nublado e as
nuvens as quais nos referíamos cada vez estavam mais altas, no lugar normal de
uma nuvem, ou seja, no alto.
Fomos até a cidade de San Salvador de Jujuy.
Nos hospedamos em um hostel e conhecemos mais um monte de gente: alemães,
argentinos, suíços e americanos. Saímos para jantar e mais tarde retornamos ao
hostel. Nesse dia estava tendo um jogo do Boca Juniors contra o River Plate na
TV. Todos estavam assistindo na maior empolgação. Os argentinos, assim como os
brasileiros, vibram com o futebol.
No dia seguinte, durante o café da manhã,
conhecemos alguns argentinos e que nos chamaram para ir com eles conhecer a
cidade. Fomos caminhando pela rua até um estádio da cidade. Depois fomos
almoçar empanadas. Aproveitamos o almoço para conversar fiado. Fomos comentar
que uma pessoa realmente consegue falar um língua quando ela consegue realmente
se expressar para por exemplo, contar uma piada. O Thiago pegou a piada nível
0, do pré-primário e foi contar: “Conhece a piada do não nem eu?”. Ninguém
entendeu nada. Ficamos mais de meia hora tentando traduzir essa piada ridícula.
Depois de muito esforço chegamos na conclusão: “Conoces el chiste de No Yo
Tampoco?”. Pensem nisso: a galera morreu de rir. Essa piada não rola na
Argentina. Aí começamos a entusiasmar: contamos uma piada pesada e suja, aquela
do Elefante caindo na lama; aquela dos dois cachorrinhos, o Grapete e o Repete.
O Grapete morreu e aí você sabe qual que ficou?
Uma hora tinha que dar errado. Nosso espanhol
tinha que falhar. De repente o povo ficou sério e começaram a falar que ali era
um ambiente família e que devíamos ir para uma praça para poder conversar
livremente. O “Repete” é um palavrão! Só não te conto o que significa, mas são
coisas que você facilmente encontraria em uma torcida de campo de futebol. O
certo seria falar “Repita”. Morremos de rir da situação.
No final da tarde fomos à rodoviária buscar
três amigas dos nossos novos colegas. Fomos todos para o hostel e acabamos
fazendo novas amizades. Naquele dia, o pessoal do hostel organizou um churrasco
a noite. A festa foi no quintal. O Thiago aproveitou para fazer download no
computador do hostel de algumas músicas brasileiras: sambinha, forró e etc.
Depois de pouco tempo ele estava lá dando praticamente aulas de samba, forró e
até capoeira. Foi super legal. Depois os argentinos começaram a nos ensinar
como dançar Rumbia. Foi super divertido. Nesse dia o Thiago ficou com uma de
nossas novas amigas, a Karina, que inclusive deu para o Thiago um calção do
Boca Juniors como lembrança.
No dia seguinte seguimos viagem, sentido
Corrientes. Teoricamente, passar por dentro do Paraguai seria mais perto para
chegar em Foz do Iguaçu. Porém, teríamos que passar duas vezes pela aduana.
Sendo assim, resolvemos seguir pela Argentina até Foz. Corrientes fica na
margem do Rio Paraguai, bem próximo da fronteira com o Paraguai. Era uma
empreitada forte para aquele dia. 1.000 km para serem percorridos exigiam uma
certa determinação. Acho que devido ter ficado até tarde e na friagem, nesse
dia fiquei muito gripado. Mas mesmo assim a meta estava mantida.
A cada posto que parávamos, perguntávamos sobre
o próximo abastecimento. Em um deles, o frentista nos informou que tínhamos um
a 130 km e outro a 180 km. Para dar ritmo, resolvemos andar até o de 180 km,
sem economizar combustível, andando à 140 km/h. No entanto, quando chegamos no
posto, tivemos a surpresa do mesmo não ter mais gasolina para vender. Que
situação! Para frente, o próximo abastecimento estaria a 80 km. Para trás,
teríamos que voltar 50 km, na manha, visto que a gasolina que tínhamos seria a
conta. Então voltamos 50 km andando a 90 km/h. Foi dureza!
Abastecemos e bola para a frente. Quando fomos
aproximando do outro posto, onde não havia gasolina, tivemos o nosso primeiro
susto de verdade na estrada. Havia uma barreira com cacos de vidro, pedras e
madeiras bloqueando a pista. Reduzimos a velocidade, engatamos marcha forte e
ficamos ligados esperando que alguma coisa muito tosca acontecesse. Olhava para
um lado e para o outro, observando as moitas do mato para ver se alguém iria
surgir armado para nos assaltar e como iríamos fugir. A verdade é que em alguns
segundos, um monte de coisas passa pela sua cabeça.
Felizmente, nada aconteceu. Passamos por fora
da pista para não estragar o pneu e seguimos adiante. Avisávamos todos os
veículos que vinham no sentido contrário. Alguns quilômetros depois avisamos um
policial que estava aguardando um ônibus no ponto. Expliquei para ele o que
ocorreu e ele imediatamente pegou seu telefone celular e avisou alguém.
Acredito eu que alguém com certeza foi assaltado naquele lugar. O problema
ficou para trás e seguimos andando. Pegamos um trecho de 30 km com buracos na
Ruta 16 e que somando com os outros atrasos, acabamos tendo que dirigir à
noite. Nesse dia rodamos 1.100 km. Foi puxado! Mas como tudo que está ruim
ainda pode piorar, custamos para conseguir um lugar para dormir na cidade de
Corrientes. Pelo stress da situação, eu e o Thiago nos desentendemos ao tentar
uma hospedagem que o dono, com uma cara feia de quem foi acordado no meio do
sono, não permitiu que nos hospedássemos sem pagamento adiantado. Nesse dia, eu
precisava cambiar dólares novamente ou pagar com cartão de crédito. Como o
Thiago veio resmungar que ele tinha avisado que não queria ficar ali, fiquei
uma fera, pois nessas horas, todos tem que assumir as decisões juntos, e quando
um começa jogar a culpa dos problemas encontrados para cima do outro, as coisas
tendem a ficar complicadas. Por fim ficamos em um hotel que para piorar
esqueceu de nos chamar na hora solicitada e acabamos levantando tarde para
continuar a viagem.
Cambiamos o dinheiro, pagamos o hotel e
continuamos sentido Foz do Iguaçu. A região que estávamos passando era muito
quente. Foi um tanto quando desgastante. Pouco antes de chegar na fronteira,
fomos parados em uma blitz do exército argentino. Principalmente solicitaram
para ver o Seguro Carta Verde. Como diz o Thiago, “ – O seguro Carta Verde
explicou porque veio!”. Se regressássemos ao Brasil sem ter mostrado o
documento em lugar algum, ficaríamos frustrados com um custo desnecessário. Mas
realmente, próximo da fronteira Argentina, o seguro é realmente exigido dos
veículos estrangeiros. Chegamos na fronteira no início da noite.
Em fim no Brasil novamente. Com meu celular
funcionando, liguei para casa avisando que estávamos em solo brasileiro, liguei
para minha namorada para dar os parabéns pelo seu aniversário e liguei para minha
prima, a Andréia, que estávamos em Foz. A Andréia e seu marido, o Ramon, moram
em Foz do Iguaçu. Ficamos hospedados na casa deles. Então encontramos em frente
um shopping e seguimos o carro deles até chegar em casa.
A sensação de estar em um lugar onde todos falam a
sua língua é muito boa. Ainda mais estar na casa de um familiar, que
rapidamente nos faz sentir mais em casa ainda. Aproveitamos o calor para dar um
pulo na piscina. Depois fizemos um lanche e fomos dormir. Ficou acertado que
iríamos para o Paraguai no dia seguinte, para conhecer a famosa Cidade do
Leste. O Thiago, desorientado com a idéia de comprar produtos baratos, ao invés
de deitar, ficou fazendo a contabilidade da viagem até umas duas e meia da
madrugada.
No dia seguinte, a Andréia nos emprestou o
computador para fazer as contas finais do levantamento feito pelo Thiago. Criei
uma planilha no Excel e fiz as conversões de moeda para saber o custo em reais
da nossa viagem até aquele momento. Ficamos felizes que estava tudo dentro da
previsão. Tomamos o café da manhã e seguimos rumo ao Paraguai.
A dinâmica da muamba na Cidade do Leste é uma coisa
impressionante. Primeiro, nós paramos o carro em um estacionamento bem próximo
da Ponte da Amizade. Então nos dirigimos até a avenida principal que leva até a
ponte. Vários mototáxis ficam a espera encostados disputando a gritos os
clientes que vão chegando. Cada um de nós três, eu, o Thiago e o Ramon, subimos
em uma moto e fomos embora. Mal deu tempo de botar o capacete e sentar na moto,
o camarada já estava arrancando.
A moto, parecia nem ter suspensão. Balançava que era
uma beleza. De repente, atravessando a aduana brasileira, ainda antes da ponte,
as motos eram obrigadas a passar por um corredor estreito ao lado de um muro
chapiscado. Que aflição! Só de pensar que se o cara desequilibrasse, seu joelho
iria apenas dar uma ralada no paredão. Mas isso é somente o começo. Quando as
motos entram na ponte, a lei é do oportunismo. Como a pista para volta ao
Brasil sempre fica congestionada de carros e ônibus, as motos invadem a
contra-mão e o trânsito fica sem lei. Vai um desviando do outro, fazendo
praticamente um malabarismo. Adrenalina total na travessia da ponte. Quando
chegamos na aduana paraguaia, no final da ponte, eles nem olham nada e você já
entra na Cidade do Leste. Alguns metros depois o mototáxi pára e você paga R$
3,00 pelo serviço. O bom é que é muito rápido. Falar em riscos é bobagem.
Nos reencontramos após a travessia. O comércio da
Cidade do Leste já começa logo após à ponte. Lojas de tudo quanto é tipo vendem
mercadorias de qualidade com preços muito baixos. A questão chave é que no
Paraguai o imposto é muito baixo. Então os produtos ficam sendo vendidos a um
preço real, isentos de uma tributação excessiva como a nossa no Brasil. Percorremos
diversas lojas sem comprar nada. No entanto, cada vez mais empolgados com o
Paraguai. Outra coisa que achei interessante na Cidade do Leste é que o povo
sabe falar o guarani, o espanhol, o português e alguns o inglês. Do jeito que
você começar a conversa eles já vão acompanhando. No final da tarde, quando as
lojas estavam fechando, fomos embora. Pegamos, cada um um, o mototáxi. Como diz
o Thiago, a emoção é maior que uma largada de motocross. Sem contar na
quantidade de motos, e uma corrida maluca! Quando fomos chegando do lado
brasileiro da ponte, aquele mundo de motos tinha que entrar em um funil onde
somente era possível passar apenas um por um. Uma loucura! No tumulto, as vezes
um bate no outro e ninguém pára. Eles não estão nem aí. Segundo relatos, de vez
em quando um abraça com outro e cai. Ainda bem que nada nos aconteceu. Voltamos
para o estacionamento, fomos para casa e já planejávamos o dia seguinte.
Quem fala que vai ao Paraguai e não vai gastar nada
está falando bobagem. É impossível! O Paraguai desperta necessidades que você
nem se atentava. Principalmente quando você começa a ver que os preços são a
metade dos preços em nossa cidade. Em alguns casos, chega a ser bem menos.
No dia seguinte, fomos de novo ao Paraguai. Porém
compramos várias coisas, perfumes, eletrônicos, equipamentos de informática,
etc. Claro que sabíamos que tinha que entrar na mala. Então não era possível
exagerar. Nesse dia voltamos para casa na hora do almoço, pois tínhamos
combinado com a Andréia de durante a tarde ir conhecer as Cataratas do Iguaçu.
Depois de almoçar fomos para as Cataratas. Foi um
passeio muito bonito. O tamanho das quedas e a quantidade de água do rio são
impressionantes. Ficamos algum tempo no Parque Nacional Cataratas do Iguaçu.
Depois voltamos para casa e mais a noite, rolou um churrasquinho. Dois amigos
da Andréia e do Ramon, o Vidal e a Ida, que são paraguaios, foram para lá com
um filho, o Marti, e com a babá. O Marti acabou nadando conosco na piscina, sem
medo de ser feliz. Foi uma noite bem descontraída e agradável. O Ramon ligou os
equipamentos dele de som e luz e fez do churrasco uma verdadeira boate com
direito a globo giratório e lâmpada estroboscópica. Conversa vai conversa vem,
descobrimos que algumas coisas ainda tínhamos esquecido de comprar no Paraguai.
Então no dia seguinte voltamos à Cidade do Leste.
Nesse dia, depois de atravessar a ponte, nos
desencontramos do Ramon. Primeiro, marquei na esquina enquanto o Thiago saiu
para dar uma volta atrás dele. Ele voltou e nada. Então ele ficou e eu fui
tentar achá-lo. Nada! Comecei a ficar preocupado de ter havido algum acidente,
ou que tivessem seqüestrado o mesmo para rouba-lo. Tudo passa pela cabeça. No
entanto, a percepção do Thiago era outra. Considerando que o Ramon é um
apreciador de lutas de Vale Tudo, a hipótese levantada era que o mototáxi devia
ter passado o joelho dele no muro chapiscado, e naquele momento, ele estava
passando o nariz do motoboy no chão.
No final das contas, ficamos em frente à loja
Monalisa e depois de meia hora, todos se encontraram novamente. Um achou que o
outro estava demorando e saiu para procurar, fazendo com que ocorresse o
desencontro. Compramos o que estava faltando e retornamos para Foz do Iguaçu.
Passamos no escritório do Ramon para verificar um problema no seu computador e
voltamos para casa. Havíamos combinado de ir até a hidrelétrica de Itaipu para
conhecer a Iluminação Monumental da barragem. Um taxista nos levou até lá.
Fomos para lá no maior entusiasmo. Todas as
sextas-feiras eles apresentam a Iluminação Monumental de Itaipu. Ouvimos dizer
que faziam abertura de comportas também para aumentar o espetáculo. Quando
chegamos lá, estávamos realmente empolgados. Mais de dez ônibus de viagem,
levavam os turistas da portaria até um anfiteatro que se localizava de frente
para a barragem. O povo começou a fazer contagem regressiva para o início do
espetáculo. Então duas moças do cerimonial iniciaram a apresentação, falando
tudo em dois idiomas: português e inglês. Assistimos a um vídeo institucional e
depois ao som de uma música de suspense, vimos as luzes se acenderem
lentamente, no tempo de um refletor se esquentar. Terrível! A expectativa
gerada se resume ao um acender de refletores. Nada se move, nada pisca e nada
muda. Nem uma aguinha mais forte jorrando existia, visto que o vertedouro
principal da hidrelétrica não podia ser visto do ponto onde estávamos. Fiquei
decepcionado com a simplicidade do negócio que é veiculado como um show de
iluminação.
Voltamos de Itaipu rindo da nossa decepção. Com diz
o Thiago, é o famoso atrativo turístico “pega bobo”. Com certeza quem foi não
volta. Te garanto que não precisa. Da usina, passamos em casa e fomos para um
barzinho chamado Capitão. Lá encontramos o Vidal e a Ida. Rimos e jogamos
conversa fora. Até extrapolamos um pouco visto que voltamos para casa tarde e
no dia seguinte íamos andar 1.000 km até São Paulo.
Levantamos e fomos embora. Era sábado e precisávamos
chegar em Belo Horizonte no domingo dia 28/01/2007. Na segunda, o Thiago tinha
que retornar ao trabalho. Passamos nesse dia pela cidade de Guarapuava, no
interior do Paraná, onde meu primo Fabrício está temporariamente morando. Como
havia ligado para ele no dia anterior e ele estava em Belo Horizonte, passamos
direto. Em um dos postos que abastecemos, ainda no Paraná, um frentista nos
alertou para radares estrategicamente colocados para pegar o povo e extorqui
dinheiro. Quem avisa amigo é. Vínhamos em uma curva e tinha um veículo lento.
Como era uma ponte, a faixa era contínua. Porém era possível ver toda a reta após
a curva e então não hesitei em fazer a ultrapassagem. Quando vi, tinha um
policial rodoviário já me pedindo para encostar com um radar na mão. Pediu para
que eu apresentasse meus documentos e já me perguntou se eu tinha visto o que
tinha feito. Sem esquivar, já afirmei que vi que tinha passado na contínua e
que isso era uma falta grave. Ele já pegou e falou qual era o preço da multa.
Lembro que tratava-se da ponte “Cinco Réis”. Mas a multa era quase uns R$
200,00. O Thiago, que estava atrás, fez a mesma manobra e enquanto um
patrulheiro falava comigo, o outro falava com o Thiago. Ele me convidou para ir
até atrás da viatura para fazer a multa. Nessa hora, eu já estava consentindo
que ia ter que gastar mais um dinheirinho. Afirmei que o veículo a minha frente
estava lento e o policial comentou que realmente o radar não detectou infração.
Mas como se diz: nada é desculpa. Acredito que se estou errado devo pagar pelo
erro e ponto final.
Quando menos esperava, o policial perguntou se eu
queria uma ajuda condicionando que ajudássemos a eles também. Pensei comigo:
“Cantou a pedra!” Na cara de pau, ele começou a pedir propina. Eu disse na hora
que preferia que fosse feita a multa pois errado era errado. Eles começaram a
especular quanto que a moto dava com um tanque, quanto cabia de gasolina no
tanque e quantos quilômetros poderíamos andar com o valor da multa. Fui
irredutível e então eles começaram a ir para cima do Thiago. O Thiago falou que
tinha disposição para ajudar, mas não tinha jeito que ele estava comigo e eu
era o caixa. Para encerrar o assunto, falei com eles que podiam lavrar a multa
porque estávamos pagando tudo no cartão de crédito, já tínhamos rodado mais de
9.000 km sem problemas e que quando a multa chegasse, pagaríamos no banco. E
que a única coisa que podíamos fazer era dar um chaveirinho que compramos no
Chile para dar de lembrança. Mais uma vez o policial hesitou em preencher a
multa. Por fim resolveram nos liberar mas quando estávamos saindo, um deles
cobrou o chaveiro. Então abrimos a mala e demos um chaveirinho para cada um.
Sinceramente, não achei um bom desfecho, pois essa é a corrupção que mata nossa
sociedade. Seguimos nossa viagem, pois faltava ainda um bom chão até São Paulo.
Chegamos em São Paulo depois das 11 horas da noite. Chegamos pela Rodovia
Castelo Branco e facilmente conseguimos chegar na casa da minha Tia Marina que
estava a nos esperar pela segunda vez, porém regressando para casa. Contamos
algumas das histórias da viagem e fomos dormir.
De manhã acordamos e preparamos para o último trecho
da viagem. São Paulo até Belo Horizonte. Pegamos muita chuva durante o trajeto,
principalmente no sul de Minas Gerais. Debaixo dos temporais, reduzíamos a
velocidade, mas continuávamos andando. Chegamos em Belo Horizonte no final da
tarde. Para encerrar a viagem, fomos até o alto da Serra do Curral, cartão
postal de Belo Horizonte, na Praça do Papa para registrar o final da viagem em
nossa terra natal. Era dia 28/01/2007 e depois de 10.150 km rodados em 30 dias,
estávamos de volta em casa. Não sabemos quando será a próxima aventura mas
temos certeza que elas virão. Como diz o meu “brother” Thiago Abreu, “Quer
viver ou quer durar?”
Belo Horizonte, 19 de fevereiro de 2007,
Braulio Alves
Silva Lara
Agradecimentos especiais:
Quero agradecer a Deus pela oportunidade e pela
força durante todos os momentos dessa aventura. Quero agradecer meus pais, Xico
Lara e Heloísa, por terem o tempo todo nos esperado de braços abertos, torcendo
para o sucesso da viagem. Quero agradecer minhas irmãs, Fernanda e Gabriela,
pelo apoio e carinho, a minha namorada Viviane, que durante todo o tempo esteve
em meus pensamentos, meus avós, tios, primos, sogro e sogra, cunhados,
amigos... enfim todo mundo.
“A distância real entre
dois lugares sempre depende de como se enxerga o mapa”
(Braulio
Lara)